Um dos maiores nomes do Cinema Novo, cineasta revolucionou o audiovisual brasileiro

O cinema brasileiro se despede de um de seus maiores mestres. Cacá Diegues, cineasta e um dos fundadores do Cinema Novo no Brasil, faleceu na madrugada desta sexta-feira (14), no Rio de Janeiro, aos 84 anos, vítima de complicações cardiocirculatórias. Com uma filmografia repleta de obras icônicas, Diegues traduziu o Brasil para as telas com sensibilidade, crítica social e um olhar único sobre a cultura nacional. Seu velório será realizado na Academia Brasileira de Letras (ABL), onde ocupava a cadeira 7 e seu corpo será cremado no Caju.
Nascido em Maceió, em 1940, Carlos José Fontes Diegues mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro, onde cresceu e começou a trilhar sua jornada no cinema. Formado em Direito pela PUC-Rio, descobriu sua verdadeira vocação no cineclube que fundou ao lado de David Neves e Arnaldo Jabor. Nos anos 1960, tornou-se um dos protagonistas do Cinema Novo, movimento que revolucionou o audiovisual brasileiro ao trazer para as telas temas populares, questões sociais e uma estética inovadora, influenciada pelo neorrealismo italiano e pela nouvelle vague francesa.
A filmografia de Diegues é um retrato fiel do Brasil em suas contradições e riquezas culturais. Clássicos como Xica da Silva (1976), Bye Bye Brasil (1980), Quilombo (1984) e Deus é Brasileiro (2003) conquistaram reconhecimento dentro e fora do país, participando de festivais internacionais e sendo aclamados por sua ousadia narrativa e estética. Ao longo da carreira, o cineasta foi indicado três vezes à Palma de Ouro no Festival de Cannes e recebeu homenagens no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro.
Durante a ditadura militar, Diegues viveu no exílio, mas nunca abandonou sua arte nem o compromisso com um cinema engajado e reflexivo. Sua trajetória foi marcada pela resistência, pela paixão pelo Brasil e por uma constante reinvenção. Em 2018, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, onde via a cultura como um instrumento de memória e transformação. Sua presença era uma ponte entre o cinema e a literatura, dois pilares fundamentais da identidade nacional.
Cacá Diegues foi mais do que um cineasta: foi um contador de histórias, um poeta das telas e um defensor incansável da cultura brasileira. Seu legado permanece vivo em cada fotograma de seus filmes, em cada cena que imortalizou um Brasil real e imaginado. Como ele próprio dizia, a vida é feita de instantes, e o seu foi de pura grandiosidade.