ENTREVISTA | Mente também adoece: cuidar da saúde mental é essencial

A psicóloga Laise Doria explica por que é importante buscar ajuda antes que o sofrimento se torne insuportável

A saúde mental é tão importante quanto a saúde do corpo, mas ainda há quem ache que procurar um psicólogo é sinal de fraqueza. Na verdade, cuidar da mente é um passo essencial para viver melhor, com mais equilíbrio e bem-estar. Nesta entrevista, a psicóloga Laise Doria, que atua em Ilhéus e é especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), explica como a psicologia pode ajudar tanto na prevenção quanto no tratamento do sofrimento emocional.

Laise fala sobre os sinais de alerta, os obstáculos que ainda afastam muitas pessoas da terapia e como a escuta acolhedora pode fazer toda a diferença. Mais do que tratar transtornos, ela defende uma psicologia que contribua para uma vida mais saudável desde cedo — nas escolas, no trabalho, nas relações. Afinal, saúde mental não é luxo: é cuidado, é prevenção, é qualidade de vida.

Confira a entrevista com Laise Doria:

R73N – Laise, nos últimos anos, temos visto um aumento nas discussões sobre saúde mental, mas também um crescimento no número de diagnósticos. O que isso nos revela sobre como estamos lidando com as emoções e os desafios do cotidiano?

Laise – Hoje profissionais e não profissionais falam sobre saúde mental, isso nos mostra que se ampliou o acesso às informações e ao conhecimento, temos atualmente avanços nas pesquisas sobre o comportamento humano, o que tem possibilitado uma melhor compreensão do que é o sofrimento psíquico, além de possibilitar na diminuição do tabu e estigma (temos um caminho a percorrer ainda, no entanto, é inegável o quanto evoluímos), quanto mais se discute abertamente, mais conscientização existe e em decorrência disso, é possível identificar sintomas, buscar ajuda profissional e ter um melhor diagnóstico. Entretanto, é importante lembrar que nem todo sofrimento psíquico é patológico, questões socioculturais como instabilidade, desigualdade e violência, acarretam uma sensação de desamparo, sobrecarga, entre outros, esses são alguns dos fatores que também comprometem a saúde mental. Então podemos dizer que hoje sabemos mais sobre emoções, falamos sobre o que aponta um relevante avanço, no entanto, ainda é preciso cuidar da saúde mental como prevenção, não apenas no processo do adoecimento e claro que para alcançar tal marco temos que enfrentar e pensar em estratégias que tornem a promoção de saúde mental acessível a quem precisa e não tem acesso. 

R73N – Ainda é comum que muitas pessoas só procurem ajuda psicológica quando já estão em sofrimento intenso. Como a Psicologia pode atuar de forma preventiva no cuidado com a saúde mental?

Laise – Sim, ainda o que é comum, é a busca por tratamento psicológico quando se há um sofrimento que compromete toda a vida da pessoa, muitas vezes com prejuízos significativos como: não conseguir dormir, comer mais ou menos que o habitual, pensamentos acelerados, menor produtividade no trabalho, alteração no humor. Mas psicólogos podem ter um papel fundamental no cuidado preventivo, como trazer informações confiáveis a população, uma vez, que nem tudo que temos disponível como meio de informação é atualmente seguro, então uma psicoeducação comprometida com a ciência e a ética, clara e acessível, estimula a busca por uma ajuda adequada antes que um sofrimento intenso se instale. Se pensarmos em ambientes coletivos, como escolas. É possível oferecer suporte e ferramentas para um ambiente acolhedor, atuando diretamente no fortalecimento das relações interpessoais e na mediação de conflitos, o que pode resultar em ações preventivas de como evitar, lidar e erradicar o bullying, melhorar a convivência coletiva, além de identificar sinais e sintomas precoces em alunos que possa ter algum grau de dificuldade encaminhando para o atendimento psicológico de forma preventiva, ou seja, ofertar um ambiente para que crianças e adolescentes possam se desenvolver de maneira saudável e humanizada. Então quando falamos de psicologia que promove saúde mental preventiva, não estamos falando apenas em uma psicologia que resolve problemas, mas também em psicologia que facilita e se implica na construção de vida com qualidade e saudável. 

R73N – Apesar de avanços importantes, muita gente ainda tem medo ou vergonha de procurar um psicólogo. Que estratégias podem ajudar a quebrar esse tabu? 

Laise – Acredito que o primeiro passo seja buscar por informações sobre o que é a psicoterapia, como funciona, o que pode acontecer, se informando sobre os profissionais, que tipo de atendimento oferece. Identificando e questionando se o hesito em buscar por ajuda tem a ver com demonstrar fraqueza e entendendo que quando pensamos em melhorias o primeiro passo é o que permite sair do lugar e ir em busca de mudança. 

R73N – Você acredita que o aumento na identificação de transtornos — como ansiedade, depressão, TDAH, entre outros — está relacionado a uma maior conscientização ou a um adoecimento coletivo? 

Laise – Precisamos esclarecer alguns pontos quando falamos em transtornos, não podemos relacionar a esse ou aquele fator, uma vez que o transtorno depressivo e o transtorno de ansiedade são transtornos do humor, e o Transtorno do Déficit de Atenção/ Hiperatividade é um transtorno do neurodesenvolvimento, já temos aqui uma diferença evidente, logo não podemos partir do mesmo lugar para avaliar. Outro fator importante é que o TDAH tem como critério diagnóstico o início na infância, entretanto, transtornos do humor podem surgir em qualquer fase da vida. O que implica a causalidade de um transtorno, ocorre de maneira complexa e envolve um modo multifatorial, como, genética, ambiente, a experiência que esse indivíduo foi exposto, entre outras interações. Mas o que se pode dizer é que a relação entre o aumento do diagnóstico com a conscientização está justamente em conhecer e conseguir identificar características específicas e, a partir desse ponto, busca por uma avaliação qualificada. Claro que o contexto que estamos inseridos pode favorecer em um adoecimento mental, como vimos na pandemia da COVID-19, em que ouvimos pessoas relatarem sobre sintomas de ansiedade em um grande número. 

R73N – Como a escuta qualificada e o acolhimento psicológico fazem diferença na vida de quem vive com algum transtorno mental ou atravessa um momento difícil? 

Laise – Um dos pontos que eu particularmente gosto de esclarecer ao fazer o primeiro atendimento, é informar que aquele é o espaço psicoterapêutico é para aquele paciente, reservado e pensado apenas para ele, tal informação faz toda a diferença no processo, pois é possível compreender que haverá uma escuta sem julgamentos e rótulos, totalmente direcionado na compreensão sua dor. Quando se há esse tipo de escuta é possível promover validação do seu sofrimento e emoções, tendo como resultado alívio emocional. 

R73N – Quais grupos ou contextos sociais ainda enfrentam mais barreiras para acessar cuidados com a saúde mental, na sua visão? 

Laise – Na verdade, o trabalhador que busca a terapia já faz um esforço para custear e se manter no tratamento, com essa realidade podemos ter o recorte que grupos menos favorecidos financeiramente, em vulnerabilidade social vão encontrar dificuldades ou até mesmo não ter acesso aos cuidados com a saúde mental. Essa é uma triste realidade, mas acredito que é possível que cada profissional da área atue de maneira consciente e comprometida em direção a ações que, mesmo que pareçam pequenas, sejam sugestivas a mudar essa realidade. 

R73N – Para encerrar, o que você diria para quem sente que não está bem, mas ainda hesita em buscar ajuda? Qual o primeiro passo?

Laise – Busque informações, busque um bom profissional, a psicoterapia pode ajudar a aliviar seu sofrimento.

Entre em contato com Laise Doria clicando aqui.

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