Com o tema “Arte, Cuidado e Liberdade”, 1º Seminário de Saúde Mental mobiliza pacientes, gestores e especialistas da região sul da Bahia no debate sobre a luta antimanicomial e os caminhos da desinstitucionalização

O 1º Seminário de Saúde Mental de Itabuna, realizado nesta segunda-feira (12) no Centro de Cultura Adonias Filho, abriu espaço para reflexões sobre os direitos das pessoas com transtornos mentais, reunindo profissionais da saúde, gestores públicos, usuários dos serviços e representantes de municípios da região sul da Bahia. Com o tema “Arte, Cuidado e Liberdade”, o evento se insere no calendário do Maio da Luta Antimanicomial e busca fortalecer o debate sobre o cuidado em liberdade e a valorização da arte como ferramenta terapêutica.
A secretária municipal de Saúde, Lívia Mendes Aguiar, destacou a escolha do tema como um gesto de comprometimento com as diretrizes humanizadas da saúde mental. Segundo ela, o seminário é um momento importante para reafirmar a defesa da desinstitucionalização e do acolhimento com dignidade. “Precisamos valorizar a escuta, o cuidado e o respeito à liberdade das pessoas com transtornos mentais. A arte, nesse contexto, representa expressão, autonomia e reconstrução”, afirmou.
Participaram do seminário pacientes acompanhados pelos serviços municipais de saúde mental, além de profissionais das cidades de Ilhéus, Coaraci, Uruçuca, Travessão, Itapetinga e Una. A proposta do evento foi ampliar a escuta e promover a troca de experiências entre os envolvidos, com uma programação que incluiu palestras, exposições artísticas e relatos de práticas terapêuticas realizadas nos municípios.
A subsecretária municipal de Saúde, Lânia Peixoto, também destacou o papel transformador da iniciativa. “O seminário é um convite à construção de uma política pública mais inclusiva, que reconhece os direitos dos usuários e valoriza suas vivências. É um desafio nacional, mas que estamos enfrentando com ações concretas aqui em Itabuna”, pontuou.
Coordenadora da Saúde Mental do município, a enfermeira Náira Cruz lembrou que a preparação do evento começou ainda em janeiro, com o envolvimento direto dos usuários dos serviços. “Este é um espaço que vai além da teoria: é uma vivência. Pela primeira vez, nossos pacientes estão apresentando suas produções e experiências. Isso fortalece os vínculos e mostra o valor da arte como parte do cuidado”, explicou.
A abertura do seminário contou com a palestra virtual do psicólogo João Mendes de Lima Júnior, coordenador-geral de Desinstitucionalização e Direitos Humanos do Departamento de Saúde Mental do Ministério da Saúde. Doutor em Saúde Pública, ele abordou as políticas nacionais voltadas para o tratamento em liberdade e os avanços e desafios da Reforma Psiquiátrica.
A programação seguiu ao longo do dia com apresentações do grupo terapêutico “Roda Viva”, que atua no Ambulatório Psicossocial de Itabuna, e exposições de obras produzidas por pacientes, como quadros, colagens e vídeos. As atividades reforçaram a centralidade do cuidado afetivo e da liberdade de expressão na construção de novos paradigmas para a saúde mental.
Ao fim do seminário, o sentimento entre os organizadores era de que o diálogo precisa continuar para além do mês de maio. O evento marcou não apenas uma agenda simbólica, mas um passo na consolidação de uma política pública que reconhece o protagonismo dos usuários e valoriza o cuidado como prática cotidiana e coletiva.